Depois de mais de quarenta anos de trajetória, depois que praticamente quase tudo já foi dito ou feito em termos de música pesada, eu creio que nenhuma vertente de Heavy Metal seja tão difícil de compor quanto o Metal Tradicional.
Vejamos bem: ele é a raiz de tudo, a partir da qual vieram o Thrash, Power, Black, Death e uma centena de et ceteras. Cada uma dessas subdivisões não foram outra coisa senão a tentativa de agregar determinados elementos em cima da matéria primordial para mantê-la sempre pesada e renovada. Só que as novidades, as reinvenções, acabaram, com o tempo, sufocando as características do estilo inicial.
Basta pensar um pouco. Quantas discos de Metal Tradicional, lançados recentemente, você tem ouvido? Músicas sem bumbos duplos, vocais guturais, palhetadas aceleradas ou teclados sinfônicos? Só o bom e velho metal. São poucos, não é? De certa forma, tornou-se mais prático fazer uma música com peso e carisma utilizando as ferramentas mais recentes, do que desfazer-se de todos os excessos e obter o mesmo resultado. Soar pesado sem ser extremo. Soar clássico sem ser datado.
Essa foi minha reação ao Revanger. Passado o impacto de contemplação da magnífica arte da capa, fui surpreendido com uma musicalidade que bebe no melhor da NWOBHM e a traduz para o período atual. Vindos da cidade de Mossoró, que cada vez mais se impõe no cenário nacional, o Revanger tem à frente o vocalista Patrick Raniery, ex-Seyfer, cujo timbre de voz remete também à época de ouro do metal, sem afetações desnecessárias e cansativas, lembrando muito o vocal de Dave Hill, do Demon, sendo que essa banda, como também o Samson, pode ser apontada como uma das influências do grupo.
É, portanto, seguindo essa linha de atuação, que uma música como a faixa título do EP, “Gladiator”, soa épica e emocionante, mas sem precisar recorrer à muleta da grandiloquência forçada. A excelência de músicas como “Crazy Words”, um cruzamento de Judas Priest com Thin Lizzy, “The Evil Song”, “Chuva de Balas”, com uma inusitada letra em português falando sobre os duelos do Velho Oeste, e a intro “Enter Hades” pode ser creditada ao foco e a fidelidade que todos os integrantes, os guitarristas Diego Miranda e Diego Sampaio, o baixista Guibyson Rodrigues, que já deixou a banda, e o baterista Vicente Mad Butcher, juntamente com Ranieri, demonstram em cada segundo de música.
Tendo a observar apenas que os solos poderiam ter sido mixados um pouquinho mais alto, eu deixei para o final a melhor parte. No futuro, sempre que eu for buscar esse EP na prateleira para escutar novamente, vou procurá-lo como “aquele disco que tem a música “Hells Angels””! Que música sensacional! Um refrão que lhe dá vontade de começar a economizar para comprar uma moto e uma melodia irresistível, que me arremessou de volta no tempo e me fez lembrar porque foi que eu me apaixonei por esse negócio de heavy metal! E não tenho nenhuma dúvida de que paixão pelo estilo foi o que moveu sua composição. Não dá para criar algo assim, tão simples e tão eficiente, se você não ama o que está fazendo.
Resta torcer para que a banda mantenha essa chama acesa. Precisamos de mais bandas que abordem o Metal Tradicional dessa forma, mantendo-o forte e relevante. Afinal, como já foi dito, ele é a base de todo o resto e, se a base desmoronar, o resto segue atrás. Isso, porém, é mera especulação, pois uma banda que espalha sangue sobre o seu logo deixa bem claro os motivos que a fizeram entrar na arena!
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9/10